Será que chegou a hora de retomar o crescimento?

Estamos chegando ao final de 2018 e sem dúvida este será mais um ano daqueles para não nos deixar morrer de tédio. Em apenas dez meses vivemos intensamente as dores de uma retomada econômica que simplesmente não decolou; de uma greve dos caminhoneiros e suas demandas fisiológicas absolutamente inviáveis, mas que foram atendidas até mesmo aonde a prática não obedece aos “decretos”; uma copa do mundo pouco empolgante, ainda com sabor de ressaca dos 7 x 1, que ajudou a atrapalhar mais um pouquinho o varejo; uma eleição que se assemelhou à uma derradeira batalha entre o bem e o mal, ao invés de uma festa da democracia, e que deixou como única certeza, que daqui a quatro anos teremos novo embate…

Enfim, depois de uma agenda tão rica em emoções, nos encontramos às vésperas das festas de final de ano, tentando prever como reagirão nossos consumidores frente às principais datas do varejo brasileiro.

Olhando especificamente para o varejo de moda, onde as vendas nos últimos dois meses do ano costumam mais do que dobrar em relação à média dos demais meses, não vemos nenhum fator econômico que impeça que este frenesi de final de ano deixe de acontecer. Afinal, apesar dos pesares, estamos com inflação e juros baixos, emprego, massa salarial e crédito em expansão frente ao ano passado. No final de novembro, já iniciamos com a Black Friday, turbinada pela entrada em circulação de R$ 212 bilhões do 13º. salário (ou jabuticaba, para alguns), a serem postos nas mãos de 85 milhões de consumidores e suas famílias, suficientes para impulsionar uma nova onda de consumo, que todo ano se repete e que ajuda a movimentar toda a economia brasileira.

Para os artigos do vestuário, quase 30% da demanda anual deverá se manifestar nestes dois últimos meses do ano, devendo gerar receitas de quase R$ 65 bilhões aos varejistas de moda.

De acordo com estudo recém lançado pelo IEMI sobre os Canais do Varejo de Vestuário, ao longo de 2018, os lojistas brasileiros deverão comercializar 6,3 bilhões de peças, alcançando receitas de R$ 224 bilhões, o que poderão gerar um crescimento da ordem de 0,8% em volume e de 1,6% em valores nominais (sem descontar a inflação), frente ao desempenho registrado em 2017.

 

Lojas de departamento especializadas em moda lideram em receita

De acordo com este estudo, as lojas de departamento especializadas em moda vêm se sobressaindo nos últimos anos, ganhando maior participação de mercado e tornando-se o principal canal de distribuição do varejo de vestuário brasileiro, em faturamento. No último ano, o canal foi responsável por 31,4% das vendas de vestuário, enquanto que as lojas independentes aparecem na segunda posição, com 27,6%. As redes especializadas (monomarcas e franquias), que aparecem em terceiro neste critério, com 26,6% do faturamento do setor é, por sua vez, o canal que oferece as melhores oportunidades para as marcas de maior valor agregado e onde se praticam os maiores preços médios de venda.

A moda íntima e a sua resiliência frente a crise

 Em termos de linhas de produto, a moda íntima/dormir foi a única que apresentou resultado positivo quanto ao volume de peças comercializadas no acumulado dos últimos anos (2013 a 2017), tendo crescido 5,5% no período. Em valores, o aumento foi de 28,7%, em termos nominais, sem descontar a inflação. Somente em 2017, frente ao ano anterior, a alta foi de 9,3% em peças e 8,6% em valores.

Mesmo tendo sofrido com a crise em 2015 e 2016, tanto quanto os demais segmentos do vestuário, o segmento apresentou uma recuperação bem mais rápida na retomada. O que contribuiu para essa recuperação mais acelerada é o fato de ser composto por produtos de primeiríssima necessidade, de menor durabilidade (peças mais leves e de uso diário) e em custo menor do que as roupas em geral.

O ano de 2018, infelizmente, sofreu com a interferência de movimentos externos ao mercado de moda, como os que já citamos no início desta coluna, mas para 2019, dado a melhoria continuada dos principais fatores econômicos, o segmento deverá apresentar crescimento de 2,6% em volumes e 4,2% em valores nominais, no varejo, segundo as nossas estimativas preliminares. Isso, porém, ainda dependerá de alguns avanços na economia e de um pouco mais de sossego para as empresas e para os consumidores brasileiros. Um salve ao tédio!

Assinatura: Marcelo V. Prado é sócio-diretor do IEMI – Inteligência de Mercado, e membro do Comitê Têxtil da FIESP ([email protected]).