A inflação e o consumo de roupas em 2023

A inflação e o consumo de roupas em 2023

Marcelo V. Prado

Marcelo V. Prado

Sócio-diretor do IEMI – Inteligência de Mercado, e membro do Comitê Têxtil da FIESP.

A redução da inflação no vestuário, que já vem sendo sentida, tanto no varejo quanto na indústria local, será fator condicionante para a retomada do consumo de roupas no país aos níveis anteriores à pandemia.

A inflação nos preços dos produtos ofertados ao consumidor, juntamente com os juros altos e o endividamento das famílias, constituem o principal entrave para o desempenho das vendas do varejo em geral.

Para o comércio de vestuário, ocorre o mesmo fenômeno, ainda que por ser um produto semidurável e com vendas financiadas em poucas parcelas (três em média), a variável juros altos tem um peso menor no desestimulo ao consumo do produto no varejo.

Para os artigos de moda, portanto, entre as variáveis apontadas acima, os principais fatores de retração de demanda são o endividamento das famílias, onde, hoje, 78% do total encontra-se em atraso com suas contas de cartão de crédito, água, luz, energia, prestações no varejo etc., e a inflação dos preços dos artigos de vestuário no varejo, que nos últimos 12 meses acumula quase 12,9% de aumento, contra apenas 4,2% dos produtos e serviços em geral (IPCA). Em 2022, os preços no varejo de vestuário apresentaram uma elevação acumulada ainda maior, da ordem de 18,0%, contra 5,8% do IPCA geral.

A boa notícia é que para 2023, a inflação prevista para o vestuário tende a arrefecer e se manter em patamares abaixo do IPCA geral. Os primeiros quatro primeiros meses de 2023, demonstraram bem isso, com uma inflação acumulada no vestuário de apenas 0,59%, contra 2,7% para os demais produtos e serviços. Para o acumulado desse ano, os modelos de projeção do IEMI estimam um aumento de preços das roupas próximo a 4,8% contra previsões de 5,7% para o IPCA geral (este último dado, segundo estimativas compiladas pelo Banco Central do Brasil).

A redução da inflação no vestuário, que já vem sendo sentida, tanto no varejo quanto na indústria local, será fator condicionante para a retomada do consumo de roupas no país aos níveis anteriores à pandemia.

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Leia o artigo "A inflação e o consumo de roupas em 2023" e a edição completa da revista:

No ano de 2022, segundo estudo do IEMI sobre o mercado potencial de vestuário no Brasil, a demanda nacional de roupas no varejo local foi de 6,27 bilhões de peças, 2,7% acima da registrada no ano anterior, impulsionada, principalmente, pelo aumento das importações, uma vez que a produção local recuou 5,8% no mesmo período. Esse montante ainda é 2,8% menor do que o volume registrado em 2019, quando foram comercializados pelo varejo brasileiro, algo em torno de 6,31 bilhões de peças de roupas no ano.

Para 2023, ainda que o primeiro quadrimestre tenha sido bastante fraco para o segmento, frente ao ano passado (7% abaixo, segundo o IBGE), as últimas projeções do IEMI apontam para um crescimento nas vendas do varejo de moda, em volumes, a taxas que variam de 0,2% para o pior cenário e 5,1%, para o melhor cenário. Este último, se valendo muito da substituição de meses fracos no comércio de roupas, registrados no segundo semestre de 2022, por meses melhores, sem os efeitos das incertezas da eleição passada, ou mesmo, da copa do mundo no período da Blackfriday e próxima ao Natal. A média geral das projeções, encontra-se hoje em 3,5% de crescimento para o varejo em número de peças a serem comercializadas, acompanhadas de um aumento de 8,5% em receitas nominais, sem descontar a inflação do período.

Quanto menor for a inflação de preços para o varejo de moda em 2023, maiores as chances de as vendas do ano voltarem a superar o período pré-pandemia e retomar o processo de expansão do setor, até porque, o poder de compra dos consumidores e seu grau de endividamento tendem a melhorar levemente esse ano, mas não a ponto de absorver aumentos relevantes nos preços do varejo.

A indústria de vestuário, por sua vez, encontra-se um passo atrás e ainda dependerá muito do desempenho do varejo local e do seu grau de competitividade frente aos produtos importados, para recuperar uma parcela maior da produção local, perdida nos últimos anos, devido à pandemia; no entanto, esse é um assunto que merece ser abordado em mais detalhes numa próxima coluna.

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Conheça os estudos IEMI para o mercado têxtil e confeccionista.

Indicadores conjunturais

De acordo com os indicadores mensais de desempenho do mercado de vestuário, em março de 2023, último dado disponível à época da edição dessa coluna, as indústrias do setor registraram um crescimento da produção da ordem de 15,7% em relação a fevereiro de 2023.

Os dados mostram que a produção industrial do setor estava 8,9% menor do que a observada no mesmo período de 2022.

Os dados para as vendas do comércio varejista, em março, também indicam um aumento de 15,1% no volume de peças comercializadas e de 15,6% em valores nominais (sem descontar a inflação). No entanto, o volume de peças comercializadas até março de 2023 foi 4,7% menor do que o registrado no mesmo período de 2022; enquanto esse indicador, quando mensurado em valores nominais, registrou um crescimento de 9,5% na comparação anual, dessa vez fruto da elevada inflação registrada para essa linha de produto, no ano passado.

Pelo lado dos preços ao consumidor, segundo os dados disponibilizados pelo IPCA-IBGE, em abril de 2023, houve inflação no segmento de vestuário (+0,79%), frente a março de 2023, enquanto no mesmo período a inflação geral no país foi de 0,61%. Quando se analisa a inflação do vestuário nos últimos 12 meses, porém, constata-se que ela está muito acima da inflação geral: 12,9% ante 4,2%. Essa alta inflação no último ano é a principal causa na queda dos volumes comercializados do produto, no varejo local.

Com relação ao valor das importações, em abril de 2023, último dado disponível, registrou-se uma queda de 20,0% em comparação ao valor importado em março de 2023, atingindo o montante de US$ 178,8 milhões no mês. No acumulado dos quatro primeiros meses de 2023 houve crescimento de 27,1% no montante importado na comparação com o mesmo período de 2022, o que poderá impactar negativamente a demanda dos grandes varejistas para os produtores locais, ao longo desse ano.

As exportações brasileiras de vestuário, em abril de 2023, apresentaram aumento de 3,4% frente ao resultado de março de 2023, atingindo o patamar de US$ 17,0 milhões. Ainda assim, no acumulado do ano, o montante exportado é 3,1% inferior ao observado no mesmo período de 2022.

Assinatura: Marcelo V. Prado é sócio-diretor do IEMI – Inteligência de Mercado ([email protected]), consultor de empresas, especialista em inteligência de mercado, diretor adjunto do Comitê Têxtil da FIESP e diretor de pesquisa da ABIESV.

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