Será que o varejo vai continuar a importar?

Nas últimas semanas temos assistido a uma elevação relevante do dólar frente à nossa moeda. Parte deste movimento se deve aos bons indicadores do programa de recuperação econômica nos Estados Unidos, o que está atraindo de volta uma boa parcela dos capitais que de lá emigraram em busca de maior rentabilidade nos trópicos; e em parte pela deterioração dos indicadores de cá. Combinados, estes fatores têm sido suficientes para adicionar uma boa dose de especulação no mercado de câmbio do Brasil, o que significa, além de um câmbio mais alto, um câmbio bem mais imprevisível para o final deste ano e o início do ano que vem.

Dentro deste novo cenário, com uma taxa que deverá navegar em torno de R$ 2,40 a R$ 2,80 por dólar, durante todo o período de vendas da coleção primavera-verão, segundo estimativas do próprio mercado financeiro, as grandes redes de varejo de moda do Brasil já começam a se perguntar se ainda vale a pena manter toda a estrutura montada no exterior, para continuar a importar parte tão relevante dos produtos que comercializam. Isso ocorre justamente num momento em que são tomadas as decisões de compra e a formalização dos pedidos da coleção outono / inverno 2014. Ou seja, decisões erradas agora, poderão comprometer seriamente os resultados destas empresas no ano que vem.

As dúvidas são tão fortes que já há um notório movimento, por parte da área de suprimentos dos grandes varejistas brasileiros, de consulta a seus fornecedores para avaliar a possibilidade de ampliar o fornecimento destes artigos para a atual coleção, ao mesmo tempo em que se iniciam consultas em relação à possibilidade de desenvolvimento conjunto de produtos mais inovadores e diferenciados, que representam a parcela de maior relevância do mix de produtos importados, para a próxima coleção outono-inverno.

Esta pode ser, sem dúvida, uma grande notícia para a indústria confeccionista brasileira, tão preocupada com o rápido crescimento das importações de vestuário, protagonizada nos últimos anos pelo grande varejo de moda do Brasil. Com um câmbio mais alto, menos importações e mais espaço para o crescimento da moda local. Entretanto, cabem algumas considerações com relação a estas novas possibilidades.

Em primeiro lugar é preciso lembrar que, se o câmbio se elevar muito, mais do que afetar a competitividade das roupas importadas no mercado nacional, que hoje respondem por 11% do consumo interno, a tendência é assistirmos a uma forte perda no poder de compra dos brasileiros, semelhante ao ocorrido em 2002 e 2003, com um forte desaquecimento na demanda interna. Considerando que as exportações brasileiras de roupas correspondem a irrelevantes 0,4% da produção nacional, o efeito da valorização excessiva do dólar e da queda no poder de compra dos consumidores brasileiros, poderá afetar de maneira significativa a produção brasileira de roupas.

Outro ponto a se considerar é a importância do legado que os artigos importados têm trazido para o mercado de moda do Brasil, onde a entrada de artigos mais inovadores, diferenciados e de melhor qualidade, tem imposto aos produtores locais e suas marcas, um novo patamar de competitividade, em termos de eficiência produtiva, agressividade comercial e estratégias de inovação, onde não basta mais copiar o que se lança na Europa, pois isso já está acessível a baixo custo na Ásia, e assim será preciso ser cada vez mais original, criativo e com cara de Brasil.

Certamente, nunca antes o Brasil teve marcas locais tão atualizadas, bem conceituadas e capazes de encantar consumidores em qualquer lugar do mundo e o que é melhor, com a sua própria identidade. Em um segmento onde o preço baixo está longe de ser o que encanta o consumidor, é hora de voltarmos a oferecer ao mundo, não o que eles já estão acostumados a comprar, mas aquilo que só nós sabemos fazer.

 

Indicadores Econômicos do Vestuário

As vendas do comércio varejista de Vestuário recuaram no mês de junho, após dois meses de crescimento. Em volumes físicos a queda foi de 6,5% e, em valores de venda, de 5,8%, reflexo de fatores exógenos ocorridos nesse mês, em especial as manifestações públicas da população que obrigaram o fechamento parcial de lojas e adiaram vendas. No acumulado do ano, de janeiro a junho de 2013, houve alta de 8,2% nas receitas e de apenas 3,0% nos volumes.

A produção nacional destes artigos, em número de peças confeccionadas, recuou 8,2% em junho, comparado ao mês de maio. No acumulado do ano, ainda apresenta redução de (-) 2,3%, sobre o montante produzido em 2012, no mesmo período.

As importações brasileiras de roupas, por sua vez, reduziram apenas 1,0% em junho, porém acumulam alta de 6,1% no ano. Já as exportações obtiveram uma forte queda no mês, de 20,4% em dólares, enquanto que no ano acumulam alta de 2,4%.

 

. Desempenho Vestuário

Variação no mês 1

Variação Anualizada 2

  Vendas no Varejo (R$)

-5,8%

8,2%

  Vendas no Varejo (Peças)

-6,5%

3,0%

  Produção Industrial (Peças)

-8,2%

-2,3%

  Importações (US$)

-1,0%

6,1%

  Exportações (US$)

-20,4%

2,4%

Fontes: IEMI / IBGE / SECEX

(1) junho 2013 / maio 2013

(2) janeiro-junho 2013 / janeiro-junho 2012

 

Marcelo V. Prado é sócio-diretor do IEMI – Instituto de Estudos e Marketing Industrial ([email protected])

 

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